sexta-feira, 13 de abril de 2012

Mistério

"Paulo Henrique, precisamos conversar". Foi assim que Glorinha começou sua noite de núpcias. Ele, que já andava meio sem paciência com os arranjos do casamento, até tremeu, "Tem de ser hoje? Vamos conversar depois, meu amor...". Mas ela estava decidida, "Não, é melhor que seja agora. Na verdade, já até passou da hora...".

Namoravam há quase sete anos. Uma daquelas relações caretas, feitas de cinema no domingo, almoços de família e quartos separados em viagens. Demoraram quase dois anos para a primeira transa. E mesmo assim, só com muita pressão dele.

Pressão também foi para marcar o casamento. Só que, claro, da parte dela. Paulo Henrique ainda tentou enrolar, mas não teve jeito. Estavam juntos há tempo demais. Gostava de Glorinha, era verdade, mas não tinha certeza se queria juntar as escovas de dente. Aos poucos a ideia foi se assentando e, perto da data, ele já estava empolgado.

Já Glorinha ficava mais tensa à medida que o tempo passava. Parecia preocupada. Não queria saber dos preparativos, da festa, do vestido. O que ninguém sabia é que havia um motivo para tanta ansiedade. Ela guardava um segredo. Algo que nem as amigas mais íntimas sabiam. Que ela não admitia nem para si mesma.

Apesar dos pesares, o casamento correu bem. O esquema tradicional de sempre: igreja enfeitada, recepção com bombons de uva e latas amarradas no parachoque do carro. A lua de mel seria em Paris. Tudo lindo, tudo perfeito. Se não fosse a tal conversa. Glorinha precisava se abrir. Não conseguiria passar o resto da vida ao lado de Paulo Henrique mentindo. Ainda mais com aquele segredo.

A conversa foi franca. Ela se abriu como nunca na vida. Finalmente contou seu segredo. E com todos os detalhes sórdidos. Paulo Henrique escutou calado. E sem dizer uma única palavra, arrumou suas coisas e foi embora. Nem se importou com a grana gasta no casamento e na viagem a Paris. Deixou tudo para trás e nunca mais quis saber da mulher.

O segredo? Glorinha jurou nunca mais contar. Nem mesmo para o seu terapeuta. E quando alguém perguntava sobre o ocorrido, ela respondia firme: "Nem queira saber..."

2 Comments:

Anonymous Frava said...

red,

Há... Pax!Fux!Lux!


Para o Paulo Henrique desistir da Glorinha e da realidade que construíram, jogar toda as realizações para o plano do arrependimento, basta mesmo que ela lhe conte. Isso. Basta!
Entendo ele.

5:54 PM  
Anonymous Anônimo said...

Boa, Fredoncios.
Agora, melhor ainda, será a sua estreia no Projeto Eutanásia.

Aguardo um texto seu na minha caixa de emails.

Grande abraço,

Daniel.

5:56 PM  

Postar um comentário

<< Home