quinta-feira, 1 de março de 2012

Vá entender

Ela sempre sonhou em casar. Aos seis anos, qualquer toalha de mesa virava vestido. Aos nove, obrigava os coleguinhas a subirem no altar. Cada dia era um. Para poder escolher. Sempre imaginava seu príncipe. Ele até variava no tipo, podia ser louro, moreno, grande ou pequeno. Mas sempre de cavalo branco. A salvava do perigo. E, invariavelmente, terminavam na igreja.

Quando começou a namorar, assustava os meninos. Logo no primeiro encontro já queria decidir o nome dos filhos. Para perder a virgindade foi uma novela mexicana. Ela queria casar pura, mas percebeu que isso podia demorar demais. Escolheu a dedo. Só poderia ser com aquele. Esperou os pais viajarem, comprou velas, vinhos, incensos. Claro que não foi bom. Mas espalhou que foi perfeito.

Na faculdade, começou a namorar sério. Fez até enxoval. Sem ele saber, óbvio. Tudo corria às mil maravilhas. Até o namorado descobrir que ela tinha reservado a igreja. Quase terminaram. Mas só foi acabar mesmo quando ela começou a parcelar o vestido de noiva. Já estava a ponto de desaminar. Aí “Ele” apareceu.

Era gringo. Loiro, alto. Perfeito. O príncipe encantado. Se apaixonaram imediatamente. Com medo de perdê-lo, evitou falar em casamento. Nem acreditou quando ele tocou no assunto. Como teria de voltar para casa, casar era a única forma de continuarem juntos. Combinaram tudo. A cerimônia seria em dois meses.

Foram os dias mais felizes da vida dela. Queria que tudo fosse exatamente como sonhava. Reservou a igreja, mandou fazer vestido, comprou alianças. Convenceu o pai a bancar a festa. Para não fazer feio, entrou em um regime radical. Só comia alface, brócolis e ovos cozidos. Isso fora a mudança. Largou o emprego, vendeu o carro. Agora só faltava o sim.

A uma semana do casamento, começou a se sentir estranha. A empolgação tinha acabado. Não conseguia dormir. Não queria comer. Estava triste. Como nunca na vida. Achou que fosse coisa passageira. Mas piorou. Não parava de pensar que tudo ia mudar para sempre. Ia virar esposa. Acordar junto todo dia. Ter filhos.

Na véspera do grande dia, entrou em pânico. Num ato que misturou ousadia e desespero, terminou tudo. O namorado até riu. Achou que fosse brincadeira. Não era. Depois de uma vida dedicada às bodas, concluiu que não queria. De nada adiantaram as súplicas dele. Nem a vergonha da mãe ou o prejuízo do pai - que já tinha pago tudo adiantado. Ela estava decidida.

E assim foi. Por meses a fio, o assunto casamento ficou proibido. Se alguém perguntasse sobre o acontecido ela virava a cara. Mas aos poucos a poeira foi baixando. Quando deu por si, já estava novamente fazendo planos. Imaginando seu príncipe. Mas agora ela sabia. O que realmente gostava. Era de sonhar.

1 Comments:

Anonymous obsessiva said...

Sonhar é loucura que dá e só passa se deixar de sonhar.

4:16 PM  

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