Paulo Eduardo andava meio desanimado. Numa fase daquelas que
não pegava nem resfriado. Quando já não tinha sequer esperanças, conheceu Maria
Alice. Era linda, simpática, inteligente. Parecia feita por encomenda. Ficaram
amigos imediatamente e logo estavam saindo.
Foram dias de glória. Acordava pensando nela. Dava bom dia
aos passarinhos. Assoviava músicas do Chico. E nem o vizinho chato do duzentos
e dois o tirava do sério. Na firma, todos já comentavam, invejosos de tamanha
felicidade. Tudo ia tão bem que começou a ficar preocupado.
E tinha razão. Numa quinta-feira, que ela não pode sair, aconteceu.
Era para ser um ingênuo happy hour com a turma da pelada. E tudo caminhava para
isso. Até que Sabrina apareceu. Além de irmã de um amigo, ela era uma paixão
platônica de Paulo Eduardo. Tão maravilhosa quanto Inalcançável.
Ela nunca lhe dera bola, é claro. Sequer o notara até aquela
noite. Mas havia algo diferente nele. Misterioso. Quando Paulo Eduardo percebeu
o interesse da moça, até tremeu. Pensou em ir embora. Quis mudar de lugar. Mas
era Sabrina, a mulher que tanto sonhou. E por mais que tentasse resistir, não
conseguiria.
Não mesmo. Acabaram ficando. Nem se importou com os amigos.
A beijou com urgência e desejo. Como se o mundo fosse acabar ali. Terminaram na
casa dele. Com as roupas espalhadas pelo chão. E a consciência mais pesada do
hemisfério sul.
As semanas seguintes foram uma tortura. A dúvida o corroía. Por
mais que quisesse, do fundo do coração, ficar com Maria Alice, não conseguia
ignorar Sabrina. Pensava nas duas com a mesma frequência. As amava com a mesma
intensidade. Apesar de tão diferentes, elas o completavam.
Optou por decidir da maneira mais sensata possível: tomando
um porre. No final, a única coisa que resolveu é que nunca mais beberia daquele
jeito. Acabou empurrando com a barriga o quanto pode. Mas não conseguia ficar tranquilo.
Tinha insônia, calafrios e até um princípio de úlcera. A maioria dos homens
adoraria aquela situação, mas não Paulo Eduardo.
Talvez por isso mesmo, começou a ficar estranho. Mal-humorado. E elas notaram. Primeiro foi Sabrina. Bem ao seu estilo, simples e
direta. Não queria mais. E pronto. Ele não teve nem tempo de ficar aliviado. Maria
Alice também queria conversar. Com mais delicadeza, tomou a mesma decisão. Era o fim.
Depois de tanto amor, acabou sozinho - e tremendamente aliviado.